quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Drags e o desprestígio feminino

Em face ao feminino, já é bastante sabido que o masculino tem seu lugar de garantido prestígio. O feminino, em várias ocasiões, é rechaçado em nossa cultura. Não é à toa que encontramos uma tipologia em que se pode enquadrar crimes como feminicídio, ou até mesmo, sejamos obrigados a criar leis que protegem mulheres cis, como é o caso da famosa Lei Maria da Penha. No fundo, trata-se da velha misoginia exercida em seus diferentes graus e que não encontra equivalente para o masculino, pelo menos não na mesma proporção e tampouco pelo acúmulo de anos de tradição.
A misoginia no meio LGBT é algo bastante recorrente. A começar pelos próprios supostos protagonistas da comunidade LGBT, os G. Sabemos que os gays, se quiserem ser respeitados ou até mesmo sair da sua invisibilidade afetiva, são quase que obrigados a performar um comportamento “másculo”. Gays afeminados (ou “afetados” se preferirem) não só são alvos mais frequentes de crimes homofóbicos, como são bastante desprezados pela parcela máscula da comunidade, e às vezes pela não tão máscula também.
Mulheres cisgêneras comumente também são alvo de comentários misóginos por parte dos gays. Ou
vai me dizer que nunca ouviu um amigo gay dizer que tem nojo do corpo de mulher cis? Muito embora seu amigo tenha tentado se esquivar com o velho argumento de que se trata de “gosto” e não de misoginia.
Mulheres trans, principalmente as travestis, sofrem bastante discriminação dentro do grupo LGBT. Talvez por, além de serem mulheres, elas rompam com as expectativas da compulsoriedade cisgênera.
No meio disso tudo, estão as Drag Queens. E aqui existem dois movimentos que se contradizem: ao mesmo tempo em que as drags são bem aceitas e bem respeitadas na noite por seu público, elas, geralmente, são também alvo da misoginia. Tem muito mocinho que não namoraria uma drag, simplesmente pelo fato de ela ser uma drag.
Fico tentando entender porque drags são personalidades na noite e as respostas que consigo delinear são:
i)                    Drags glamourizam o feminino. E o glamour é tido como algo positivo para os protagonistas gays. É muito tenso pensar que esse fator ultra mercantilista é uma das engrenagens para o sucesso drag.
ii)                   RuPaul conseguiu conquistar outra grande protagonista do mercado: a classe média. RuPaul conseguiu expandir o nicho drag para além do gueto e das boates e entrou nos lares da classe média.
iii)                 A drag é exotificada. Por ter um visual exótico e por ter um mistério de transformação, a drag não passa despercebida.

Seguramente, haverá muitos outros fatores que explicam o relativo prestígio de uma drag. Se o interseccionarmos a outros quesitos, como o de classe, escolaridade, raça, etc encontraremos insights bastante profícuos.

Agora, quanto à misoginia simbólica a que é submetida, sabemos de cor e salteado que o machismo nosso de cada dia é o grande responsável pela padronização, castração e recalcamento das liberdades dos corpos e dos gêneros. 

Fotos by Erik Nardini

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