domingo, 31 de dezembro de 2017

Retrospectiva 2017

by Carlos Poblete

2017 foi um ano em que a nossa dupla, As Ramirez, se consolidou de vez. 

Foi um ano espetacular, de trabalhos de diversos tipos e de crescimento profissional.
Estivemos em vários espaços importantes, da periferia à universidade, do teatro à rua. Fizemos a abertura do show da Pabllo Vittar em Campinas, participamos de discussões até mesmo num centro budista. Viajamos, palestramos, performamos e gravamos muitos episódios do nosso programa "As Ramirez perguntam". Também estreiamos nosso novo programa, o "Almanaque drag". Mas não deu mais para tocar adiante o "Chá Caseiro", por falta de grana e tempo. Estivemos muito ocupadas com nossos ensaios exaustivos, com as várias produções e montações. 
Gostaríamos de agradecer a todas as nossas parcerias, clientes, contratantes, apoiadores, fãns e o carinho sem fim do público em todas as nossas performances. Agradecemos imensamente todos os presentinhos que ganhamos neste ano, do fundo do coração. 
No ano que vem, nós voltaremos com tudo. 2018 será um ano promissor. Executaremos um projeto PROAC, aprimorando e profissionalizando a nossa arte drag. Além disso, também montaremos um lindo espetáculo no teatro Castro Mendes. Criaremos novas performances e novos figurinos, tudo feito com muito carinho e amor.

Desejamos a todxs os mais sinceros votos de felicidade e alegria.

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Abaixo segue uma lista dos nossos principais trabalhos de 2017 (É só clicar no link para reencaminhar para nossos vídeos ou fotos):

Fev.
- Sarau da Diversidade - Teatro de Arena - Unicamp - Campinas - (26/02)
Clique aqui e aqui.

- I Festival de Cultura Transativista - Mundo Pensante - São Paulo - (03/02)
Clique aqui e aqui (fotos).

Abr.
- Festa do Açaí (Canto da Iara te chama) - Moradia Estudantil - Unicamp - Campinas (08/04)
Clique aqui.

Mai
- I Semana da visibilidade Trans da Unicamp - Roda de Conversa - IEL Unicamp - Campinas (09/05) Clique aqui e aqui.

- I Festa Trans - IFCH - Unicamp - Campinas - (12/05)
Clique aqui e aqui (fotos).

- V Semana das Diferenças - Instituto Federal de Inconfidentes - MG - Palestra e performance:
Clique aqui e aqui (fotos)

- Sicknening - Espaço Under - Campinas - (20/05) -
Clique aqui e aqui (foto)

- Ato LGBT - Centro - Campinas (21/05)
Clique aqui.

Jun
- Biorgia - Prime Hall - Campinas (Abertura do show Pabllo Vittar) (02/06)
Clique aqui.

- Redes digitais e culturas ativistas - Puc-Campinas (07/06)
Clique aqui (foto).

- IV Modive-se. Performance: Ausência e Despedida - MIS - Campinas (09/06)
Clique aqui.

- Roda de conversa Centro Cultural Centro Budista Campinas - (14/06)
Clique aqui.

- 17ª Feira Cultural LGBT de São Paulo - Vale do Anhnagabaú - São Paulo - (15/06)
Clique aqui e aqui (foto).

- Beco 203 - Show Beneficente Casa 01 - Augusta - São Paulo - (16/06)
Clique aqui.

- Retratadas na exposição fotográfica de Cíntia Antunes, na IV Mostra da Diversidade de Campinas (Modive-se) Junho
Clique aqui.

- IV Modive-se. Fragmento da peça "O homossexual ou a dificuldade de se expressar". Campinas (19/06)
Clique aqui.

- Arraiá da Moradia - Canto da Iara te chama - (26/06)
Clique aqui.

Jul.
- Parada LGBT de São Paulo - São Paulo - (01/07)
Clique aqui.

- I Parada LGBTQI+ de Barão Geraldo - Campinas (11/07)
Clique aqui e aqui.

- Parada LGBT de Campinas - Campinas (26/07)
Clique aqui e aqui (fotos).

- Casamento Gleicon + Jhonatan- Paulínia (26/07)

- Calefação Tropicaos - Porão Transmoras (31/07)
Clique aqui e aqui (fotos)

Ago
- I Desfile de moda a-gênero - Estilista Vicente Perrotta - Vila Madalena - São Paulo (27/08)
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Set
- 40 anos Bioart - IB - Unicamp - Campinas (24/09)
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- Kiki Ball Descontrucao Avalanx - Sala dos Toninhos - Estação Cultura - Campinas (30/09)
Clique aqui.

Out
- O homossexual ou a dificuldade de se expressar - MIS- Campinas (06-07/10)
Clique aqui e aqui.

- Participação no clipe de Prince Jullio - Cai fora (08/10)
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- II Festa Trans - IFCH - Unicamp (20/10)
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Nov
- Evento Unicamp: Saúde Coletiva aplicada à vida (cidadania como produção de saúde) - Centro de Convenções - Unicamp (10/11)

- Sarau Desviadas - Espaço Bons Ventos - Campinas - (11/11)
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- O homossexual ou a dificuldade de se expressar - Teatro Ceart - Paulínia (15-17/11)
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- Encerramento Curso de Formação LGBT Sem Terra - Escola Nacional Florestan Fernandes - Guararema (25/11)
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- Festival da FEF - Grupo de Ginástica Geral - Coreografia: Guerra dos Tronos (28/11)
Clique aqui.

- Festival da FEF - Grupo de Ginástica Geral - Coreografia: Posin (28/11)
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Dublagens:
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TUTORIAL:

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PROGRAMAS YOUTUBE

Chá Caseiro: clique aqui
As Ramirez perguntam: clique aqui
Almanaque drag: clique aqui

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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

"AS RAMIREZ perguntam" (ARP)

O programa que euzinha, Jaque Ramirez, e a minha marida Kiô Ramirez apresentamos no youtube/facebook se originou como uma derivação do Chá Caseiro. Pra quem ainda não conhece, o Chá Caseiro foi um programa em que entrevistei 12 pessoas incríveis que vieram debater comigo temáticas sociais singulares. As 12 entrevistas foram gravadas entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. No entanto, paralelo a este projeto, surgiu o "As Ramirez Perguntam" (ARP).
O ARP apareceu bem despretensioso. Como o Chá Caseiro era um programa muito longo e que somente eu apresentava, pensamos em criar outro programa que fosse mais dinâmico e no qual a Kiô também pudesse estar presente de corpo, alma e maquiagem (rsrsrs).
No começo, o ARP não tinha uma direção muito clara de entrevistas. Nós ainda não tínhamos muito traquejo para pensar numa pauta de última hora. Mas desde que o programa começou o frio na barriga na hora de pensar uma pergunta tem diminuído. Imaginem só, você toda linda  num evento, quando de repente passa na sua frente uma figura que você tanto admira. É assim que nós fazemos nossas entrevistas. Olhamos uma para a cara da outra e meio que telepaticamente nos comunicados. Os olhos da Kiô me dizem o que a boca quer falar. E com nossa sintonia nos jogamos nas perguntas.
O nosso objetivo com este programa é o de criar/manter cultura e  arte LGBT, narrada a partir dos nossos pontos de vistas LGBTs.
De lá pra cá, algumas coisas mudaram. Fomos ganhando uma identidade visual e temos tentado a cada episódio sempre melhorar na edição. Sabemos que ainda temos muito a melhorar, mas o que vale é o conteúdo, que é imperdível!
Estamos muito felizes de já termos disponibilizado quase 30 episódios, de já termos entrevistado muita gente bacana - que está fazendo a diferença nesse nosso cenário cada dia mais hostil para a arte/cultura LGBT.
Esperamos ter vida longa com o nosso programa, apesar de todas as dificuldades que também enfrentamos.
Então, se você curte nosso trabalho e quer nos incentivar, não se esqueça de se inscrever no nosso canal do youtube As Ramirez (link) e curtir a nossa página As Ramirez (link).


Confira nossos episódios:

032ARP: Ruth Venceremos
031ARP: Bia Bagagli (alteração de nome das pessoas trans nos cartórios)
030ARP: Miranda Ebony: não-binariedade
029ARP: Rodrigo Costa Costa
004ARP: Laerte Coutinho.


segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Da transgeneridade drag

A discussão está travada na seguinte questão: a transgeneridade está majoritariamente sendo entendida como uma metonímia. Sabe, aquela história da parte pelo todo? Existem muitas formas de se vivenciar a transgeneridade. Há muitas narrativas transgêneras. Mas só três delas estão ao nível do debate social. São justamente reconhecidas como identidades “verdadeiras” (ainda que maleporcamente) por simplesmente estarem reconhecidas no debate social. E não há sombras de dúvidas sobre a importância de estas três identidades alcançarem esta esfera do debate. As longas e históricas trajetórias de luta, opressão e conquista de direitos de travestis, mulheres e homens trans é inegável. No entanto, há mais tantas outras narrativas sobre a transgeneridade.
Entendo a experiência transgênero como toda e qualquer experiência em que a pessoa cruza as convenções do seu próprio gênero estabelecido. Uma experiência transgênero pode ser a de um homem cisgênero que se fantasia de mulher no carnaval. É também uma experiência transgênero quando você vai a uma festa temática como as “festas do contrário” (em que homens se vestem de mulheres e mulheres se vestem de homens). Em suma, uma experiência transGÊNERO é quando cruzamos a qualquer momento as fronteiras dos gêneros que nos é estabelecido.
No quesito frequência, a diferença entre uma experiência transgênero e a identidade de gênero transgênero é a quantidade de experiências transgênero vivenciadas. Quando um homem vai a uma festa de carnaval, ele apenas “se veste” de mulher. No dia seguinte, o seu gênero “homem cis” está assegurado novamente. Travestis, homens e mulheres trans cruzam esta linha permanentemente, em tal frequência que a experiência leva a toda carga que estas pessoas carregam. Mas entre a experiência única e a experiência permanente há uma gama de outras identidades.
Há pessoas que podem voltar no carnaval do ano seguinte e mais uma vez “usar roupas” do gênero oposto. Aqui eu acho interessante o funcionamento do “gênero” frente ao “vestir-se de um gênero”. Parece que através do ritual da vestimenta, homens e mulheres conseguem acessar o canal do alterego do gênero oposto. A roupagem parece funcionar como um placebo do gênero: como se a vestimenta fosse a máscara do gênero. Ou seria todo o contrário: a roupagem empodera o gênero, porque a sociedade reconhece o gênero através da roupa.
Há outras pessoas que se vestem de mulher com um pouco mais de frequência. Há pessoas que só se vestem de mulher na intimidade, como muitxs Cross-dresser, que inclusive têm a vestimenta no próprio nome, dresser.
E aqui começa a surgir a dificuldade dos limiares. O que pode ser considerado uma experiência transgênero legítima? Um homem gay cisgênero vestindo uma calcinha durante o ato sexual pode ser considerado uma experiência transgênero? Quanta roupa ele precisaria usar para poder ser considerado do outro gênero? Quantos signos de feminilidade ele precisaria mover para poder, em sua intimidade, ser uma mulher?
Transgeneridade também é um assunto para as drag queens (com exceção das “ladies queens”, drags mulheres). Há muitas drags (ou pessoas que fazem drags) que se distinguem de seu personagem feminino. Encaram duas realidades: a drag sai com um bom banho e fica guardada lá no guarda-roupa e, geralmente, o menino gay cisgênero assume o comando. A pessoa de verdade é o Joãozinho e não a Maryah Sabatella. Mas mesmo assim, mesmo nestes casos de dissociação, o Joãozinho montada de Maryah Sabatella é uma experiência transgênero.
Há outras drags que, no entanto, já são mulheres trans. Algumas inclusive, começaram como drags. O interessante é que nestes casos, a palavra “drag”, como ex-drag em oposição a nova mulher trans, funciona como um proto-gênero. Apesar disso, as pessoas no Brasil ainda têm muita dificuldade em enxergar algo de gênero na "drag", alegando que drag é pura e simplesmente "arte". Não que não seja arte. Drag é arte, mas TAMBÉM tem a ver com gênero.  
Devemos reconhecer que, para a maioria das drags, exercer a arte drag tem a ver essencialmente com a experiência transgênero. Montar-se é atravessar as fronteiras dos gêneros.
E novamente esbarramos nos limiares: o quanto de experiência transgênero necessitamos para, de fato, cruzarmos a ilusória linha dos gêneros? O quanto cada drag se permite a feminilidade? O quanto da feminilidade você leva para o Joãozinho - que está no controle -, a ponto de o Joãozinho ir-se embora de verdade? Há drags que vigiam a própria feminilidade, ainda que inconscientemente, quando desmontadas. Tratam suas próprias drags na terceira pessoa como se de uma outra pessoa se tratasse. Na real, eu acho que nossas drags são apenas projeções de nós mesmas para sermos felizes da forma que gostamos de ser. Quem faz a drag sou eu, logo a drag sou eu! Se a tenho que varrer pra debaixo do tapete por questões de trabalho, familiar ou amorosa, eu até entendo. Mas, no fundo, cada drag sabe que sempre somos nós mesmas o tempo todo.  O que muda são os olhares da sociedade. O que muda são os olhares que fazemos de nós mesmas.
Como os discursos sobre transgeneridade respeitam a uma certa hegemonia e como os discursos sobre outras transgeneridades são incipientes, as drags sequer são capazes de se reconhecerem como vivenciadoras da experiência transgênero. Mesmo dizendo que se identificam como gays cis, estes mesmos gays cis fazendo drag estão vivenciando uma experiência transgênero.
***
Cá entre nós:
Vocês veem cabelo de mulher, vocês veem cara de mulher, vocês veem corpo de mulher. Mas vocês não veem uma mulher. Vocês se masturbam pensando nela. Vocês desejam o corpo dela. Até entendem a sua mulheridade (ups, feminilidade), mas não a consideram uma mulher, dessas de verdade. Mulher ou homem, existe aí na Pablllo Vitar uma experiência transgênero, destas que se transforma na pedrinha do sapato da teoria de vocês. A nossa identidade drag, enquanto identidade transgênera, é uma experiência fluida e, assumidamente, proteiforme, como toda e boa identidade. Imos e voltamos, somos homens e mulheres, ou só homens ou só mulheres. Somos nada, somos agênero, somos só uma roupagem, como vcs adoram nos lembrar. Mas uma roupagem que a cabecinha de vocês não conseguem processar. Nós vivemos na linha do meio, somos drag 24h. Montada sou drag, mas desmontada também continuo sendo a drag, só que sem a “roupa”. Continuo vivendo as questões que a drag me traz. Aliás, nós, drags, vivemos nossas questões que são particulares, como é este o caso da Pabllo Vitar. Vocês estão sendo violentos com ela, como o já foram comigo. Deem a nós o direito de não nos explicar!!! Revejam os seus privilégios binários!

   

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A sobrevivência da cultura drag no filão dos reality shows

É super complicado falar sobre RuPaul's Drag Race (RPDR), em muitos sentidos. Eu vou pontuar só dois deles.

É complicado porque o seriado tem uma legião de público muito apaixonado. Portanto, falar qualquer coisa sobre RPDR desperta o amor e também a ira de uma pá de gente.
Segundo que é inegável a importância do seriado para a profissionalização da arte drag e da manutenção da cultura drag ao redor do mundo. “Yes, galgamos o degrau da globalização pop!!!” A visibilidade sensibilizou as pessoas sobre as dificuldades de ser uma drag queen. E mais, estimulou uma juventude a experimentar sem preconceitos esta arte.
Mas, este mar de benefícios não pode anular os reveses que se criou na comunidade. Apesar de todo o amor pelo seriado, é necessário pontuar alguns aspectos que pede o pensamento crítico:
Vcs já repararam como nossa sociedade é “monocórdia”? Estamos o tempo todo escolhendo os melhores. Quem será a nova loira do Tchan? Quem é o jogador que fez mais gols: Pelé ou Maradona?
A era dos “realities” encontrou nessa característica um prato bem cheio. Não é à toa que escolhemos os chefes másteres com o prato mais requintado e criativo! Escolhemos aquele que supera as calamidades de uma vida no relento e prova sua força de vontade comendo até olhos de cabra e baratas de laboratório. E nos deleitamos ao assistir aqueles karaokês tailandeses que mergulham seus cantores em poços cheios de lagartos, sapos e crocodilos? Quem é a melhor voz? Quem tem o melhor timbre? E desse tem até a versão Kids!!
Nos últimos tempos temos chafurdado nossos rabos no sofá vendo “la crème de la crème de la crème” das seleções dos melhores! Bem aquele que você não é! E se fosse, como você sempre pensa do lado de cá, faria melhor e terminaria num salto mortal! Que pena que não é você!! De você, eles amam a empatia.. E é nesse afã que eles moldam tudo para que você se identifique: e se fosse eu??? Além disso, qual concepção de “melhor” está em jogo? Sabemos muito bem: o melhor é aquele que faz por merecer! E aí entramos no terreno movediço da MERITOCRACIA! Os reality shows lidam com a lógica meritocrática que faz adoecer todo mundo. Esse mundo é doente porque buscamos o tempo todo sermos os melhores. Estamos paranoicos, nos cobrando o tempo todo pelo nosso melhor.
Sorte que nós, as drags, temos um reality pra chamar de nosso. Isso é simbólico, mas o preço é que nos dragadiamos (gostaram do trocadilho? rsrsrs) por uma coroa que nem sempre vale a pena.


Sei que a cultura drag tem sobrevivido desde sempre através dos concursos. Mas, sei lá, poderia estar na hora de podermos fazer diferente. Quem sabe nossos concursos não sejam mais cooperativos. Tomara que a grande mídia marqueteira descubra logo que nós queremos cooperar. A RuPaula já sacou isso na sua última temporada. Quem sabe não há uma luz no fim do túnel, uma luz que nos leve para a democratização de outras narrativas drags. Afinal, nós sabemos fazer muitas coisas, além de competir!

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Drag queen: uma porta de entrada para a experiência de gênero

by Bapho Produções
A imagem da drag queen é um símbolo bastante forte de representação da sigla LGBT. Quando pensamos em LGBT, facilmente podemos imaginar uma drag queen. Isso vai do senso comum ao próprio movimento! Mas o irônico disso tudo é que até agora não entramos em acordo sobre em qual categoria se enquadra a drag queen. Se a drag é L, G, B ou T!!!! Afinal de contas como funciona o gênero e a sexualidade da drag?
Como estamos muito acostumadas com o paradigma da cisgeneridade, o primeiro impulso é classificar a drag no grupo G, de gays! Mas daí temos dois contra-argumentos: i) travestis e transexuais também podem ser drags e ii) mulheres cis, que não são LGBTs à priori, também podem ser drags, portanto, L e, obviamente, Bs também!
Se quisermos pensar de outro modo, a coisa também se complica bastante: em que grupo colocar a drag? Na turminha da sexualidade: LGB? Ou da identidade de gênero: T?
Uma coisa que tenho pensado pra mim é que drag, conforme vivenciamos na atual conjuntura – que é diferente de sua relação do passado na tríade: transformista, drag queen, travesti artista – é uma porta de entrada para uma experiência de gênero bastante tênue e que produz efeitos de sentido na generidade de quem a pratica que se agrava a depender do quão fundo você se entrega a essa experiência.
Ser drag é uma cisão no transcurso da construção de gênero. É uma cisão porque se desnaturaliza a construção do gênero que é constante para todo mundo. Drag é o momento do antes e do depois, mas também pode ser um momento gradual.
No caso de homens gays cis, a drag permite que eles percam o medo do feminino e se empodere de seus signos. E depois de viver por algum tempo essa experiência, será que este homem gay cis ainda continua com a sua cisgeneridade intacta?
E as mulheres cisgêneras quando fazem drag? Por que o fazem? O que a drag permite que elas façam livremente nesta sociedade que nos recalca o tempo todo? O que elas podem ser? E o que elas se tornarão depois dessa experiência? Continuarão a mesma mulher de antes?
E as pessoas trans que fazem drag? O que a drag representa em sua vida: um antes e um depois em quê? E o caso daquelas pessoas que se tornam trans “de verdade” depois da experiência drag?
O efeito drag é bastante diverso a depender da experiência de gênero anterior! E é fato que ninguém sai incólume depois desta experiência.

O grupo é bastante diverso, como qualquer outro. Mas apesar disso, guardamos bastante semelhanças pois somos um grupo. Um grupo identitário que no final das contas não é puramente L, nem G, nem B e nem puramente T. Resta saber o que temos em comum!

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