sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

29 de Janeiro (2016) - Dia da visibilidade trans

Há 2 anos perguntei aqui no blog para algumas ativistas da causa trans a importância do dia da visibilidade trans. Segue abaixo suas respostas:

Daniela Andrade - O dia da visibilidade trans* é importante para lembrar que pessoas trans* sofrem 12 meses, 365 dias por ano a transfobia e o cissexismo. Que essas pessoas estão marginalizadas, alijadas dos bancos das escolas e universidades, preteridas no mercado de trabalho, sendo forçadas a se prostituírem, tendo o gênero deslegitimado diuturnamente, sendo agredidas por uma sociedade que não nos considera gente, que não vê humanidade em nós. O dia da visibilidade trans* serve para que as pessoas se conscientizem que não podem e não devem lembrar da nossa existência apenas no dia 29 de janeiro.

Bia - É importante pra população cisgênera saber dos seres abjetos que eles mesmos, através dos mais sutis até os mais violentos dispositivos, marginalizaram. E denunciar esses dispositivos, que se mostram como se fossem inexistentes. Mas não apenas isso, também é uma via de mão dupla: é pra pessoas cis saberem que são cis. Estou cada dia mais afeita a pensar a visibilidade trans* enquanto visibilidade cisgênera. Isso porque o termo cisgênero torna possível diversos deslocamentos de sentidos. Afinal de contas, só iremos saber quem são as pessoas trans* se soubermos quem são as pessoas cisgêneras. Estaremos deslocando a forma de ver as pessoas cis quando as designamos como cis ao invés de outros termos naturalizantes e biologizantes. É através do reconhecimento da alteridade do outro que vamos conseguir tornar as pessoas trans* humanas, e o uso do termo cisgênero me parece essencial nesse sentido.

Duda - Não só o Dia, mas a Semana, o Mês, o Ano e o Século. Visibilidade é o que nos falta. A População Trans* é oprimida inclusive por outras partes da Própria Sigla LGBT. Temos que quebrar essa Transfobia nossa de cada Dia. Temos que nos fazer ouvir e lutar pelos nossos Direitos. Direitos que não caíram do Céu, como nada cai. Temos que juntxs, fazer com que exista a nossa Visibilidade. Fazer com que sejamos ouvidxs, vistxs e respeitadxs. Façamos cada Dia um Dia da Visibilidade Trans*, assim como a Visibilidade de todas as Classes oprimidas. 

Leila - A compaixão é uma questão humana essencial. Toda opressão é baseada em retirar a compaixão de uma parcela da população. É a naturalização da condição subumana.
Além disso, para submeterem-se de livre e espontânea vontade, as pessoas precisam ter medo, muito medo. Aí que entra o discurso de ódio. Eu poderia listar uma lista enorme de opressões. Todas funcionam assim e todas têm um interesse muito específico de controle social.
No caso das pessoas transgêneras, as regras que quebramos violam o estado de terror a respeito da agência individual sobre os corpos. O espantoso é como pessoas conseguem viver um roteiro sempre igual a respeito dos seus corpos e vivências e nunca perguntarem-se sobre o que estão fazendo de suas vidas, se não há outras formas de organização social que lhes permitira explorar mais e melhor suas potencialidades no tempo de suas vidas, se não há um estado corporal mais interessante. É absurdo que as pessoas não se questionem. Só é cômodo não se questionar, mas de modo algum isso é bom. As pessoas sofrem e pensam que tem que ser assim mesmo.

Temos que ter um espírito mais explorador. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Há ousadias muito necessárias. Admiramos do modo errado esses heróis das histórias. Esse “mais do mesmo” só interessa aos pouquíssimos que estão ganhando muito com isso.

Vivi - Vou utilizar a definição que li em uma das postagens da blogagem coletiva para o Dia da Visibilidade Trans*: ele “existe para dar voz, identidade e cidadania às pessoas trans*, que vem a ser pessoas transexuais, transgêneros, travestis ou outras que não se identificam com a ideia normativa que temos de “masculino” e “feminino”.”
Neste sentido, acredito que este dia de celebração e luta carregue consigo uma potência bastante significativa. Mas precisamos sempre estar criticamente atentas, enquanto pessoas trans* e aliadas, para que este dia signifique descolonização, e não apropriação cistêmica para fingir que as coisas estão melhorando e o mundo é legal. Porque não é. 

Indianara - Queríamos que esse dia não existisse, mas como existe é importante que não passe em branco, pois nos tornaria mais invisíveis do que já somos na sociedade. Temos que dar importância a esse dia para que as pessoas escutem nossas vozes e saibam que precisamos de direitos que nos são negados desde os mais básicos. E o pior é ser invisível dentro do movimento LGBT. Então, para nós, é muito importante esse dia. É o dia que as pessoas nos notam e se dão conta que existimos.



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