Tive um misto
de sentimentos assistindo à performance de Macklemore e Ryan Lewis, Mary
Lambert e Madonna na premiação do Grammy desse ano. Veja aqui.
Peguei o link e
comecei a assistir ao vivo e, sinceramente, eu não consegui entrar no clima.
Logo, não achei nada demais. Demorou demais para passar, já estava muito
cansada. Achei uma enrolação até chegar no ponto.
Mas, depois,
vendo com mais calma. Fora do contexto da premiação, eu até que me emocionei e
deu pra enxugar aquela lágrima solitária escorrendo aqui no rosto.
A minha crítica
também é dupla. E eu vou começar pela parte boa.
Acho super
importante que se retrate o casamento igualitário, é uma das luta da comunidade
LGBT (diria que é uma luta mais dos LGBs, o T é outra conversa). Mesmo que eu
não goste muito de casamento, acho isso uma coisa muito heteronormativa, penso
que é importante essa briga porque ela diz respeito a uma luta por direitos igualitários.
Tirando o foco do casamento, é bacana empoderar os que não gozam de direitos
plenos. E em se tratando especialmente dessa época, em que há tanta violência
cotidiana dispensada a jovens homossexuais (é claro que a violência contra
trans* é muito mais frequente e muito menos debatida dado o seu silenciamento),
é muito importante que se traga a questão ao grande público. Trata-se de um dos
eventos mais importantes do mundo da música e de personalidades muito
prestigiadas, então, estrategicamente é uma forma de dar visibilidade para a
luta.
Mas, por outro
lado, acho ruim porque os homossexuais acabam reforçando a lógica binária, já
que se baseia num matrimônio heterossexual; reforça também a ideia de
"amor romântico", que pode ser uma coisa bastante opressora; reforça
a ideia de família tradicional, pois está à margem dessa lógica e não contra
ela; e, sobretudo, é uma maneira que não dá protagonismo aos oprimidos. Por mim
tudo bem se vc queira se casar nos moldes tradicionais, lutamos para isso
também, e acho que, por isso, me emocionei mais tarde. O que é ruim é que a
coisa sempre parte deles para nós, parte dos "normais" para os
"diferentes", parte da "maioria" para "minoria".
Tem um tom meio que patriarcal, em que é preciso que sejamos inteligíveis para
eles, para que eles possam nos conceder o favor do casamento.
Nesse sentido,
já migrando de opinião, achei que, de certa forma, a performance foi tokenista.
O tokenismo é quando a gente pega algum membro ou um grupo oprimido como
exemplo para dizer como somos legais, como somos inclusivas (sem ser, de fato).
Vem da palavra inglesa "token", que significa "exemplar,
emblema, símbolo".No linkda Wiki em inglês, eles dão o exemplo do que acontece em
algumas empresas que contratam mulheres e negros. Muitas vezes, elas apenas
contratam mulheres ou negros para dizer como a empresa é inclusiva, quando, na
verdade, o salário de mulheres ainda continua menor que de homens e de
negros mais baixos que de brancos.
Na performance
do Grammy, vejo isso acontecendo: "olha que bacana, a gente falando de
LGBT em pleno Grammy". Aqui, não estou criticando a Madonna em si, mas o
Grammy como um todo. Sabemos que Madonna tem uma longa relação com a comunidade
gay, principalmente. Mas nunca ouvi falar que a produção do Grammy tenha algum
trabalho de bastidor com essa comunidade. A gente não quer só aparecer na
televisão, arrumadinho, limpinho e ser aceito pelas maiorias, a gente quer
protagonismo. Só isso.
Então, olhando
nem tão de perto e nem tão de longe, fico meio ressabiada de ver só elogios à
performance. Mesmo que amemos a Madonna, é preciso deixar a paixão de lado,
para perceber que nem tudo são flores.
Um beijo da Jaque
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